sexta-feira, 13 de março de 2009

Minha cidade natal

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Nasci em Castro-PR, em 26 de julho de 1945, pelas mãos de “frau” Muller, a parteira da cidade. A foto acima, tirada por Márcio Bueno, mostra a Praça Santana do Iapó na primavera. Minha família mora nesta praça. Nela também estão o Museu do Tropeiro, a Casa da Sinhara,  a Casa da Praça, onde os artistas expõem suas obras, a Câmara Municipal e o SIPAM, antigo Ginásio São José, onde cursei o primário até aos 9 anos. Para ir a escola, bastava atravessar a praça. Perto desta praça, porém, não nela, fica o Seminário dos Padres Cavani, antigo Colégio Diocesano  Santa Cruz, onde estudei até a conclusão do científico, depois segundo grau e hoje sei lá o que. Esta área em torno da igreja está tombada pelo patrimônio histórico.

Morei em Castro até aos 18 anos quando passei a frequentar o curso de engenharia química da UFPR. A partir dai vivi mais em Curitiba, só vindo para Castro nas férias e nos finais de semana prolongados.

A cidade se localiza a quase 1000 metros acima do nível do mar. Nela vivem cerca de 70.208 almas, das quais 46.251 moram na cidade. Ainda hoje, sempre que posso, apareço por lá. Uma delícia!

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Sua importancia histórica decorre de ter sido passagem obrigatória para os tropeiros que iam de Viamão até Sorocaba, tendo, portanto, forte origem no tropeirismo. É conhecida também, como "Cidade Mãe", porque foi a primeira cidade fundada no estado do Paraná, quando este emancipou-se de São Paulo.

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Está em Castro o primeiro Museu do Tropeiro do Brasil, fundado na gestão do Prefeito Dr. Lauro Lopes, por coincidência meu parente. Ele é mostrado na bela foto acima tirada por Werneck. O museu está instalado na casa mais antiga da cidade. Só a casa de estuque que abriga o acervo já é uma viagem no tempo. No lado oposto da Praça Santana do Iapó fica a Casa da Sinhara, homenagem às mulheres que viveram em Castro nos séculos 19 e 20, que reproduz fielmente todos os cômodos de uma casa da época, onde as mulheres ficavam sozinhas boa parte do ano, fiando, tecendo, cosendo e fabricando queijo, sabão, velas, farinha de mandioca e polvilho.

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Castro sofreu a influencia de emigrações holandesas. A primeira, no início do século XX, deu origem ao Carambei, hoje municipio autônomo e sede da Batavo. A Castrolanda surgiu depois, na leva que veio no principio dos anos 50. Os  holandeses compravam no armazem de meu pai e apareciam com aqueles trajes coloridos e tamancos de madeira que foram aos poucos sendo abandonandos. Sem falar nada de português, se esforçavam bastante para entender e se fazer entendido. Era engraçado. Está na Castrolanda o maior moinho da América Latina com uma altura de 37 metros (do chão até a ponta da asa em posição vertical) e uma envergadura de 26 metros. Este moinho abriga o Memorial da Imigração Holandesa “De Immigrant" (O Imigrante), construído em 2001 pelo engenheiro holandês Jan Heijdra em comemoração aos 50 anos da imigração holandesa. Ele possui duas mós e pode processar até 3 toneladas de trigo.

Castro também sofreu influencia da imigração alemã e polonesa, mas não tão impressiva com a holandesa.

Os colonos alemães se instalaram no distrito de Terra Nova onde também existe um museu do imigrante. A maior parte deles chegou no início do século XX, vindos diretamente da Alemanha.

Em 1875, vieram a Castro pouco mais de duas dezenas de famílias polonesas. Nos anos seguintes aportaram muitos. Os poloneses de Castro vieram da Prússia polonesa, conhecida como Pomerânia. Após a segunda guerra mundial, a Pomerânia foi dividida entre a Polônia e a Alemanha, disso resultou outra leva migratória principalmente para Santa Catarina.

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Está em Castro o primeiro Jardim de Infancia do pais, fundado, em 1862, por Emilia Ericksen nascida em 1817 no Recife. Vinda de uma família bastante abastada, recebeu uma educação excelente. Foi uma mulher de destaque, e muito participativa nos meios intelectuais, privilegio negado às mulheres da época. Casou-se em 1841 com o marinheiro dinamarquês Conrado Ericksen, indo com ele para a Europa, vindo a tomar contato com o pedagogo Frederik Frobel, interessando-se pelo magistério. Retorna, com o marido e a filha nascida na Europa, para Santos, em 1844. Em 1855, acompanha o marido que recebeu a incumbência de fundar uma Colônia Irlandesa no Paraná, projeto que fracassou, indo então para Castro. Em 1867 perde o marido, e decide então ensinar a língua francesa para um grupo de moças, e, logo depois, começa um trabalho pedagógico onde ensinava tanto filhos de fazendeiros como de escravos, seu método, bastante eficaz, buscava uma ponte entre o conhecimento infantil e adulto. Em 1905, se retira para o município de Palmeira, onde falece em 28 de setembro de 1907. Sua escola é considerada o primeiro Jardim de Infância do Brasil. Hoje é a Casa da Cultura da cidade mostrada na foto acima.

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Localizado bem perto do centro da cidade está o Parque Lacustre. O lago também atua como regulador das enchentes. Neste parque, a população desfruta de paz e tranqüilidade em contato com a natureza.  Pela manhã e ao final do dia, as pessoas fazem "cooper" e relaxam nos caminhos pavimentados.

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Foi neste trecho do rio Iapó, mostrado na foto acima, conhecido como prainha, que aprendi a nadar muito cedo. Eu pulava no rio aqui onde está o pássaro e ia nadando, ou simplesmente flutuando ao sabor da correnteza, até onde está a ponte pensil. É aqui que me sentava no barranco para pescar lambaris, alguns carás e bagres distraidos e, raramente, uma traira. Minto, nunca consegui pescar uma traira, uma das minhas frustrações.

O rio Iapó nasce no munícipio de Pirai do Sul, passa pelo munícipio de Castro e tem sua foz no municipio de Tibagi, aonde se encontra com o rio de mesmo nome. Iapó na lingua guarani significa lagoa, alagado e, neste caso, significa rio que alaga. De fato, as enchentes deste rio tornam a sua travessia problemática uma vez que sua parte a jusante da cidade está encravada num profundo "canyon" e a parte a montante possui largas várzeas alagadiças. Aliás, esta é uma das razões do florecimento da cidade de Castro, estabelecida às suas margens, próxima ao "Passo dos Bois", que é um dos dois únicos vaus extensos (trechos onde o rio pode ser transposto a pé ou montado em animais).

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Esta placidez da prainha não se aplica ao rio a jusante. Mais adiante o rio se torna encachoeirado como mostra a foto acima. Não é a toa que os tropeiros escolheram o trecho onde se localiza a cidade para atravessar o rio com suas a manadas.

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O Canyon do Guartelá é um dos mais belos canyons, sendo o sexto maior do mundo e o maior do Brasil em extensão. O canyon mais profundo do Brasil é o de Itambézinho localizado no parque Nacional dos Aparados da Serra, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A região do Canyon do Guartelá, formada por um ecossistema extremamente rico e inúmeras atrações naturais é protegida pelo Parque Estadual do Guartelá, criado em 1992. São várias quedas d’água, corredeiras, formações areníticas, vales profundos e inscrições rupestres, cemitérios indigenas que podem ser conhecidas através de várias trilhas em meio à flora e fauna muito diversificada. Apesar de estarem muito danificadas pela ação humana.Por lá são encontradas espécies de plantas que normalmente são vistas em lugares completamente distintos: samambaias e xaxins típicos da Mata Atlântica; cactos só encontrados na caatinga; imbuias e cambuis,que formam a vegetação de banhados. Há ainda uma grande quantidade de  araucárias, copaibas, ipês amarelos, erva mate, bromélias, orquideas, palmeiras, barbas-de-bode, entre outras tantas espécies. Quanto à rica fauna da região, destacam-se mamíferos como tamanduás-mirins, bugios, tatus, capivaras e até o lobo guará e a suçuarana ameaçados de extinção. Entre as aves, os destaques são a curucaca, falcão quiri-quiri, picapau do campo, tiriva,codornas, perdiz e jacus.

Em Castro estão muitas grutas com direito a estalactites e  estalagmites, todas de difícil acesso exigindo guia e permissão para visita. Merecem ser mencionadas Gruta do Pinheiro Seco, Gruta da Caveira, Gruta Lagoa dos Alves, Gruta de Pedras, Gruta Olho D'Água, Gruta Paiol do Meio, Gruta da Barrinha, Arco de Pedra, Catedral de Luzes. Outra atração de difícil acesso é o Salto do Cotia onde a água cai de 50 metros. Uma delícia e uma pancada na cabeça para quem ousar.

4 comentários:

  1. Bela história e cidade ! Orgulho de ser Paranaense hem ?

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  2. Muito bom!! Para outros conhecerem um pouco a sua terra natal. Bjs.

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  3. Tio Carlos,
    adoramos a didática história de Castro. Queremos saber como visitar as grutas. Da próxima vez, você vai com a gente?
    Um abraço do Claudinho, Patrícia, neném, direto de Piracicaba.

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  4. Estudei na UFPG (Em Ponta Grossa)em meados dos anos 70 Conheço bem os locais de que se refere. Mas sua descrição é nobre e deliciosa, tive que ler até o fim. Aprendi detalhes interessantes. Parabéns.....

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