segunda-feira, 23 de março de 2009

EDO 002 – Solução geral e particular

Resolver uma equação diferencial consiste em achar a função desconhecida que a satisfaz. Antes de entrar nos métodos de solução, o caminho inverso deve ser percorrido. Partindo de uma família de funções achar a equação diferencial satisfeita por ela. Para isso, considere a função de duas variáveis

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Esta equação representa uma trajetória no plano u versus t. No referencial usado u é a ordenada e t é a abscissa. O gráfico da função resulta numa curva neste referencial. Se uma constante α for incluída  ela assume a forma:

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Escrita desta maneira ela não representa mais apenas uma curva, mas toda uma família de curvas e a cada valor de α corresponde uma curva da família. O exemplo a seguir ilustra isso

Exemplo – A função que representa uma circunferência de raio unitário com centro na origem é:

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Se no membro à esquerda a parcela unitária for substituída por a função fica

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Neste caso, ela passa a ser a equação da família de circunferências de centro na origem e raio α. Onde α pode assumir qualquer valor real positivo.

Considerando a equação de uma família de curvas e eliminando o parâmetro, o resultado é uma equação diferencial ordinária de primeira ordem. Para eliminar α é necessário derivar a equação da família de curvas em relação a t. Disto resulta

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A eliminação de α pode ser feita considerando o par de equações:

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Feita a eliminação do parâmetro o resultado será uma equação diferencial ordinária de primeira ordem.

Exemplo  – Considere a equação da família de circunferências com centro na origem

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Diferenciando em relação a t resulta

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Como a constante sumiu na diferenciação, a equação diferencial apareceu sem esforço. Explicitando a derivada ela fica:

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Esta equação é satisfeita pela família de circunferências com centro na origem. Para ver isso, basta inserir a equação da família de curvas na equação diferencial.

A família de curvas que dá origem a equação diferencial é a solução geral desta equação. Se a equação da família for introduzida na equação o resultado será uma identidade. Cada curva da família será uma solução particular da equação diferencial.

A obtenção da equação diferencial no exemplo acima foi simples demais e isso não é comum. Então considere o exemplo a seguir envolvendo uma família de exponenciais.

Exemplo – Considere a família de curvas exponenciais dada pela função

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Seguindo o mesmo roteiro do exemplo anterior obtém-se

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Como o parâmetro α não sumiu na derivação, então o par de equações deve ser considerado para eliminá-lo. Assim

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Subtraindo a primeira equação da segunda resulta:

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Esta é a equação diferencial ordinária de primeira ordem cuja solução geral é esta família de curvas.

Entendido o conceito de solução geral, a seguir é apresentado mais um exemplo cuja utilidade será percebida mais adiante.

Exemplo – Considere agora a família de retas dada pela equação

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Para eliminar o parâmetro basta diferencial esta equação em relação à t. Disto resulta que

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Inserindo na equação da família de retas resulta

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Esta é a equação geral de Clairaut, logo a família de retas acima é a solução geral desta equação.

Exemplo – Considerando a equação apresentada no Exemplo 1.1.1.

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Esta equação é satisfeita pela família de retas

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Assim, uma equação aparentemente cabeluda tem uma solução geral bem simples.

Se uma família de curvas é solução geral de uma equação diferencial, cada curva desta família será uma solução particular da equação diferencial.

O que acontece se, ao invés de um, existirem dois parâmetros? Neste caso, a equação da curva deve ser diferenciada duas vezes e a eliminação dos parâmetros leva a uma equação diferencial de segunda ordem.

Agora estamos em condições de declarar que resolver uma equação diferencial ordinária analiticamente consiste em achar a equação analítica da família de curvas que a satisfaz. O que acontece é que, na maioria dos casos, esta equação analítica não pode ser encontrada, quando é encontrada pode ser de pouca utilidade, obrigando que métodos numéricos sejam usados.

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